
Lusíada recebe especialistas em finanças sustentáveis, em conferência internacional organizada pelo COMEGI
No dia 03 de maio de 2024, a Universidade Lusíada (Lisboa) recebeu a conferência internacional “Sustainable Finance”, organizada pelo Professor Doutor Álvaro Matias, pela Professora Doutora Isabel Cantista, pela Professora Doutora Isabel Oliveira, investigadores do Centro de Investigação em Organizações, Mercados e Gestão Industrial (COMEGI), e pelo Professor Doutor Theodor Cojoianu, da Business School da University of Edinburgh. Esta conferência contou com o apoio do COMEGI e da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20 realizada em 2012, foi assinada a Declaração do Capital Natural por responsáveis de mais de 40 instituições financeiras, com o compromisso de trabalharem no sentido de integrar critérios de capital natural nos seus produtos e serviços. A União Europeia está consciente de que as alterações climáticas e a degradação ambiental são uma ameaça existencial para a Europa e para o mundo e, por isso, para enfrentar e ultrapassar estes desafios, lançou o Pacto Ecológico Europeu, em 2019. Também o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu criaram, nos últimos anos, um sistema de classificação de atividades económicas ambientalmente sustentáveis para intensificar os investimentos sustentáveis e para combater o branqueamento ecológico de produtos financeiros. Este evento reuniu vários especialistas de renome oriundos do mundo académico, de instituições internacionais, europeias e nacionais, que abordaram alguns destes tópicos.
Na sessão de abertura, o Professor Doutor Luís Valadares Tavares, diretor do COMEGI, deu as boas-vindas a todos os participantes e fez uma apresentação do Centro, realçando a importância que o COMEGI tem dados, nos últimos tempos, a projetos de investigação que possibilitem criar redes de investigação com instituições além-fronteiras. O Professor concluiu afirmando que esta conferência internacional foi pensada para funcionar como um espaço de debate sobre a relação entre duas dimensões de grande relevo nos dias que correm, a dimensão financeira e a dimensão da sustentabilidade. A Professora Doutora Isabel Cantista, diretora do grupo de investigação "Sustentabilidade, Inovação e Empreendedorismo" do COMEGI, referiu que o objetivo desta conferência é promover um espaço de partilha de conhecimento no seio universitário que reúna decisores financeiros, académicos, investigadores e interessados da sociedade civil, para debater as finanaças sustentávies, discutir o que tem sido feito até agora, de maneira a estabelecer linhas orientadoras para o que ainda é necessário desenvolver e investigar no futuro.
O Professor Doutor Theodor Cojoianu, da Business School da University of Edinburgh, também coorganizador da conferência, académico que tem desenvolvido a sua carreira no estudo das intersecções entre a sustentabilidade, a ciência e as finanças, moderou o primeiro painel dedicado aos temas da Política Financeira Sustentável, Medição de Impacto e Branqueamento Ecológico. Lucía Alessi, líder de equipa na área da investigação financeira no Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia apresentou a estratégia da Comissão de auxílio à transição da economia dita tradicional para uma economia sustentável e apresentou o enquadramento europeu da sustentabilidade financeira, muito baseada no desenvolvimento da Taxonomia Verde. O Professor Doutor Andreas Hoepner da University College Dublin e membro da EU Platform on Sustainable Finance, veio falar sobre a importância dos capEX como determinantes para se atingir os objetivos ambientais pretendidos numa economia em transição para a sustentabilidade.
O Professor Doutor Álvaro Matias, diretor da Faculdade de Ciências da Economia e da Empresa (FCEE) da Universidade Lusíada (Lisboa), e investigador do COMEGI, apresentou o terceiro keynote speaker, Carlos Martins do European Stability Mechanism, entidade cuja missão é ajudar os países europeus a evitar e a ultrapassar crises financeiras, mantendo a estabilidade e prosperidade financeiras. Carlos Martins abordou a questão de que o mundo precisa de uma mudança para o paradigma da sustentabilidade e precisa que a comunidade de investidores faça parte dessa mudança. Como temos vindo a observar, as alterações climáticas (com episódios repentinos e imprevisíveis) afetam o nosso dia a dia e, em, consequência, a economia. Em termos financeiros, as alterações climáticas afetam a perceção do risco e é por isso necessário, a mitigação do risco para existir investimento. A mitigação desse risco passa pelo trabalho que tem sido desenvolvido pelas instituições europeias, como a taxonomia verde. A transição para a sustentabilidade traduz-se, então, em empresas mais verdes: uma empresa verde estará melhor preparada para enfrentar os impactos das alterações climáticas, os riscos ambientais e os riscos da sustentabilidade. A empresa verde, no médio, longo prazo, deverá ter menos risco. O keynote speaker deixou no ar a questão, de como se poderá financiar para a transição, sectores que são mais poluentes, onde essa significará mais custos. Por último, fez uma pequena análise sobre a sustentabilidade financeira das empresas portuguesas.
A Professora Isabel Cantista deu início à sessão da tarde, onde moderou uma conversa com Luís Couto da GoParity e com Cristina Casalinho, administradora executiva da Fundação Calouste Gulbenkian, que vieram dar o seu contributo sobre a sustentabilidade nas suas organizações. Luís Couto fez uma breve apresentação da GoParity, uma plataforma de crowdfunding de investimentos com impacto, financiamento alternativo a empresas com impacto positivo nas pessoas e no planeta. A GoParity já ajudou muitas empresas em Portugal e no estrangeiro a fazer a transição. Cristina Casalinho falou sobre o plano de ação da Gulbenkian durante os últimos anos e referiu como é que a Fundação alterou o seu core business associado aos combustíveis fósseis para uma organização que depende agora menos de 20% desse sector.
Da parte da academia, o Professor Wenxuan Hou, da University of Edinburgh, diretor-adjunto da revista "British Accounting Review" e editor do "Journal of Chinese Economic and Business Studies", apresentou as tendências atuais de investigação em sustentabilidade financeira e a sua evolução ao longo dos últimos anos. O futuro da investigação nesta área passará pelo estudo da biodiversidade, das finanças e das políticas de carbono.
De seguida, tiveram lugar seis sessões dedicadas a vários quadrantes da sustentabilidade financeira:
- Sessão 1: "Investment and Sustainability Insights";
- Sessão 2: "Environmental Disclosure Practices";
- Sessão 3 (on-line): "Sustainability Reporting and Regulation" ;
- Sessão 4 (on-line): "ESG Challenges and Crisis Response";
- Session 5 (on-line): "Financial and Non-financial Reporting and Sustainability";
- Session 6 (on-line): "Green Finance and Innovation".
Ao encerrar a agenda de trabalhos, houve ainda lugar para um conferência intitulada "Central Banking and Sustainability" a cargo de Clara Raposo, Vice-Governadora do Banco de Portugal. Clara Raposo começou por referir que a agenda da União Europeia para as finanças sustentáveis tem estado na linha da frente a nível mundial, em termos regulamentares, desde o lançamento do plano de ação para o financiamento do crescimento sustentável em 2018. Esta agenda já estabeleceu pilares significativos como as taxonomias sustentáveis, divulgações, benchamarks, classificações e rotulagem verde. Estes pilares auxiliam os governos a delinear políticas ambientais (policy makers) que depois devem ser implementadas pelas instituições (policy takers) para se atingir ou prosseguir para a transição sustentável. É neste patamar de policy takers, que se encontra o Banco de Portugal, que tem envidado esforços para fazer cumprir a sua missão fundamental de agente responsável pela preservação dos preços e de estabilidade do sistema financeiro português, e ao memso tempo, promover uma transição eficaz de uma economia altamente dependente de carbono para uma economia muito pouco dependente deste. No final da sua intervenção, a Vice-Governadora fez uma rápida apresentação da abordagem do Banco de Portugal à sustentabilidade, que está materializada no documento de nome "Agir pela Sustentabilidade", parte integrante do plano estratégico da instituição para o quadriénio de 2021-2025, estruturada em 3 ações: integrar os riscos ambientais na missão do Banco de Portugal, reforçar os padrões ESG na gestão interna do banco, e promover a consciência ESG dos trabalhadores e interlocutores externos.
A encerrar o evento, a Professora Isabel Cantista voltou a reforçar o sucesso deste dia de partilha de conhecimentos e o desejo do COMEGI em transformar esta conferência internacional numa plataforma facilitadora para investigadores e profissionais que possibilite a discussão e a troca de ideias e experiências. É desejo do COMEGI que esta conferência se torne a realizar e que possua uma periodicidade bienal.
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